terça-feira, 10 de junho de 2008

Bom dia


Atravessava a estrada, logo pela manhã, e um mendigo cumprimentou-me. Bom dia. Nas mãos, levava um ramalhete de buganvílias e um gatinho branco, a contrastar com os seus andrajos. O porte altivo e a voz profunda prenderam-me o olhar e a língua. Bom dia, Nina.

segunda-feira, 26 de maio de 2008

Torpor

...subo a escadaria dos meus sonhos e parece que os degraus se multiplicam à razão da minha ansiedade em descobrir o sotão dos prazeres...

Onde estás?

(procuro portas, setas, indicações, uma cábula qualquer que me indique o destino, mas nem mesmo meu alter ego me concede esta colher de cumplicidade)

... depois, segue a dúvida natural dos cépticos:
estarei a sonhar?

(palpita-me que os degraus mais não são que os dias e que o sonho é na verdade o torpor da felicidade)
... abro os olhos, estou numa rua da cidade nossa e a meu lado sorris, cúmplice, as mãos entralaçadas...

Aprendizado


...na diálética da saudade, onde nos reencontramos tantas vezes, Nina, minha linguagem aprimorou-se, aprendi a não olhar para trás e a desprender-me do outro... aprende-se com a raiva e com o ciúme que morde a alegria... às vezes, a ira assola a razão.... quando tudo parecia pronto a explodir, encontrava-te, também perdida, quase tonta de querer e nos matávamos, à nossa saudade sobretudo... quando a saudade morria e soprávamos suas cinzas ao vento da ilha, eis que se abatia em nós o eterno retorno do desprendimento carnal... e a saudade renascia, qual Fenix, pronta a embalar-nos em seus braços vigorosos...

(trechos de um pensamento vagueante, de outros tempos, outros "nós"?)

sexta-feira, 23 de maio de 2008

Saudade

Olho para as roupas que deixaste espalhadas pelo chão e sinto saudades do teu corpo nu. Nos dias que passei contigo, muitas vezes senti falta da saudade. Agora, vejo que ficar é um acto muito mais solitário do que partir. Passo os dias longe daqui, regresso à noite para dormir, num ritual que não compreendo. Parece que esta casa tornou-se outra, menos aconchegante, mal lhe reconheço o cheiro. Pode ser a iminência da mudança, pode ser da saudade, este sentimento tão estranho, que tanto pode ter poesia como ser despido de qualquer senso. Nina: sei que tens uma missão a cumprir. Sei do teu sacrifício e da tua dor. Se a saudade é a minha contribuição para mais esta missão tua, na terra brasilis, então agradeço por cada lágrima que cair de mim.

Máscaras



Somos seres tão frágeis que até dá medo. Tenho medo de confessar o que sinto, medo de libertar meus fantasmas. Por isso, vou vivendo num eterno baile de máscaras nesta aldeia chamada Mindelo. Quando é que me vens visitar, Nina?

quinta-feira, 22 de maio de 2008

Prenúncio



Nina é um velho poema que guardo, teimosamente. Não sei por onde andou, anos a fio. Esta noite sonhei que morria nos braços de um estranho. Calou fundo em mim a urgência de escrever…screver qualquer coisa que me pertença. Eis-me aqui, Nina, para te amar.